Um Natal para brincar de imaginar

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Sofia é uma menina de dois anos de idade que, apesar de amar o Papai Noel, morre de medo dele. Na creche, ouve atenta a “tia” contar a lenda do homem que distribui presentes a bordo de um trenó. Em casa, com os pais, ela desenha, recorta e monta o velhinho como bem quer. Mas, quando vê o dito cujo “em carne e osso” sentado numa poltrona de veludo vermelho em meio ao shopping, paralisa. “Quer ficar olhando de longe”, diz a mãe, a empresária Renata de Carvalho Cardoso, 30, de olho na menina que se ocupa em correr ao redor da avó.

Diagnosticada com um tipo leve de Transtorno do Espectro Autista (TEA), Sofia precisa de estímulo constante para desenvolver sua capacidade de imaginar. Papai Noel, segundo Renata, tem ganhado importância nesse processo. “A ‘criança imaginativa’ consegue brincar mais, trazer fantasia pra vida dela. Consegue ser mais feliz”, opina. E a relação que a filha tem com o Noel, compreende a empresária, não tem ainda a ver com consumo. Tanto que, de presente para este ano, Sofia quer um pirulito.

“Desenvolver a criatividade das crianças é apostar que, no futuro, vamos ter mais pessoas capazes de transformar, pensar criticamente, sair do lugar comum e ir além. A gente vive num mundo extremamente reprodutivo”, reflete a psicóloga e professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Luciana Quixadá.

Para potencializar essa capacidade inventiva, a profissional indica que, além da fantasia, é preciso pensar e estimular mais brincadeiras subjetivas. “Bonecas têm cor certa de cabelo, a criança não tem como expandir seu imaginário”, exemplifica. “Mas, se ela cria, desenha, produz seus brinquedos, a capacidade criativa se amplia, porque não está óbvio”, ensina.

Personagens fantásticos

No mesmo contexto em que fala sobre Papai Noel — de quem não espera ganhar nada no Natal, pois não quer “gastar o dinheiro do coitado” —, o menino Pedro Henrique Colaço Alves, 9, conta que Zeus, da mitologia grega, Anubis, da mitologia egípcia, e leprechauns do folclore irlandês são seus personagens fantásticos preferidos.

O gosto de Pedro pela fantasia é especialmente estimulado pela tia, a professora de português Isolda Colaço Pinheiro, 43. “A criatividade, como traz alegria, tem um fator fundamental que é a cura. Das angústias, da gente não se sentir inserido no mundo”, interpreta. E brinca que, na família Colaço, “somos todos malucos”.

Criança que brinca e imagina muito tende a gostar de literatura, aponta a psicóloga e diretora da consultoria paulista Caleidoscópio Brincadeira e Arte, Adriana Klisys. E a preferência, segundo a profissional, resulta em pessoas mais sensíveis e criativas. (Luana Severo)

Fonte: O Povo